Drama Queen


Acho que sempre fui dramática, já nasci assim, desde o meu nascimento estava escrito "drama". Era uma noite escura (só faltou ser chuvosa), não tinha energia elétrica, usavam lamparinas, não tinha hospital, tinha uma parteira (meio cega), eu fiquei agarrada, quase morro, quase mato minha mãe, tenho uma costela quebrada desse episódio fatídico. Como ser diferente?
Acho que o tal anjo que fica ao lado das mães recém paridas começou a rir e disse logo: “essa daí vai se dedicar ao drama”, como não? Se a vida já começou com essas pegadinhas desde cedo? Chorar litros por algo que deu errado? Chorar por amores rompidos? Chorar por passarinhos que simplesmente caem mortos num dia de verão?
E assim fui seguindo docemente a minha vida de dramas..., mas não a vida seja toda ruim. Aliás tenho muito respeito por ela e total estima por pessoas que tiveram vidas muito mais difíceis, pessoas que não nasceram nem com luz de lamparina, ou pessoas que não quebraram uma costela, mas vieram sem partes do corpo.
 Sempre tive sede de ter tudo e de tudo que considerava bom. Claro, quem não quer? E claro, eu que deveria conquistar mesmo com as dificuldades sempre tive bem claro cada detalhe do que queria: Faculdade, casa, depois carro, viagens, família?  Só a que eu já tinha. Casar e ter filhos? Talvez um filho adotivo e um casamento desses de juntar, mas sem cartório papel e igreja. Até aí tudo bem, afinal os homens sempre fogem de compromissos mesmo.
@adorefamee
Ocorre que nada é definitivo em nossas vidas e nem em nossas escolhas. O carro por exemplo, veio primeiro que a casa, a casa nunca veio (não da forma que sonhei) e depois de algum desgaste emocional eu resolvi “largar pra lá”. Viagens, planejei várias. Viajar mesmo, viajei poucas (algumas pessoas acham que muito, e está aí inclusive uma das coisas que tenho que trabalhar, pois tem gente que fez muito menos que eu, então posso me considerar uma viajante se for comparar com outras pessoas). Mas também, não gosto de comparar. Acho feio eu olhar para as conquistas dos outros e achar que tive menos (ou mais, o que seria soberba). Prefiro ver como oportunidades e escolhas diferentes. Um dia a oportunidade chega, mas você está disposto a ir?
A vida é assim, cheia de rasteiras, e tombos feios. Igual aquele dia que caí na rua, e só queria atravessar pra comer algo no bar que tinha um ótimo cardápio. Fiquei triste, mas eu me levantei e fui comer o que planejei (mesmo que com um nó na garganta, e com vontade de chorar). A vida não perdoa e não te presenteia por ter caído (mesmo com o joelho machucado por longos dias), a vida não vai te dar uma gratificação por isso. Mas eu, a rainha do drama, claro tive que fotografar dia após dias e enviar para as minhas amigas lamentando e rindo do ocorrido, até que virou cicatriz, e mais uma lembrança de uma noite desastrosa.

O drama segue. Por exemplo: quando encontro o meu bar favorito fechado, penso como a vida é ruim dele estar fechado, e penso como a vida é péssima, dele estar aberto e não ter nem uma mísera mesa desocupada pra eu me sentar. Quando um amigo passa sem muito entusiasmo com a minha presença por exemplo (ridículo isso, afinal nem sou a Lady Gaga), tenho tendência a me sentir abandonada, ou, se minhas amigas resolvem sair depois do trabalho e não me chamam, eu até choro. Mas há de convir né? Ninguém quer ficar pra trás... Por que eu estou falando tudo isso?  NÃO SEI! Sou dramática mesmo!
Li essa semana algo sobre mapa astral que uma pessoa insistiu em fazer: Claro lá estava escrito “Vênus em gêmeos”, o que isso quer dizer? Sei lá! Mas fui pesquisar é claro.... E tudo isso me fez ficar reflexiva sobre a minha maneira sensível de viver. Afinal, segundo a minha pesquisa (pra quem acreditar) essa posição no mapa astral influência totalmente. Então eu concordo. Para quem não acredita, melhor aceitar que sou assim de defeito de fabrica mesmo.            
Viver não é uma escolha que a gente faz lá antes de nascer, viver é uma escolha que a gente faz dia a dia. A cada mínima coisa que a gente faz estamos escolhendo viver. Comer, correr, trabalhar, sorrir e até chorar, tudo isso faz parte da nossa escolha em viver.
 Ninguém tem responsabilidade sobre os nossos sentimentos. É uma responsabilidade nossa, todo dia (e isso pesa, eu sei), agora o que nos diferencia um dos outros? É justamente nossa opção diária de sentir, não ser indiferentes aos nossos sentimentos, não ignorar uma dor porque sabe que ela vai passar. Fingir que está tudo bem mesmo doendo é um recurso que as vezes usamos. Mas não devemos usar sempre. Isso nos faz mal, nos desgasta, nos aprisiona em sentimentos negativos.
Mesmo que os outros olhem e digam “essa daí é dramática”, mas e daí? Quem está sentindo? O anjo que está lá do lado olhando você nascer de costelas quebradas que não é. A parteira que era quase cega? Também não! O cara que fez o mapa astral? Obvio que não!! Sentimentos são particulares e lindos, então se você quer sorrir que seja! Mas se quiser chorar e daí?  Não estamos aqui para passar atestado de plenitude pra ninguém. Quem nos quiser por perto que seja por completo: de corpo, alma, coração e drama!!